JOÃO FRANCISCO CAVALCANTI
(João Barafunda)
(São Luiz do Quitunde-AL, 1874 – Rio de Janeiro, 1938).
João Francisco Coelho Cavalcanti, conhecido por João Barafunda, advogado e poeta. Filho do poeta satírico Joaquim da Cunha Cavalcanti e de Belmira de Alcântara Menezes Cavalcanti. Bacharelou-se em Direito pela Faculdade do Recife. Poeta satírico, seus versos e modinhas eram cantados pelo interior do Estado, sendo entre as modinhas a mais popular aquela denominada Genura.
Teve uma vida errante e cheia de aventuras, vagando por Alagoas, até ser ameaçado de morte por causa de sátiras violentas. Exerceu advocacia e foi Juiz de direito em Passo Fundo (RS), de onde saiu por razões políticas, e refugiando-se em Rivera, Uruguai.
Jornalista no Amazonas. Internado no Hospício da Praia da Saudade, em 1923, no Rio de Janeiro. Espírito altamente independente de zombeteiro panfletário.
Pseudônimos: Amália Peitiguary e Coelho Cavalcanti.
Obras: Ouro de Lei, 1918; Carola Maluca, Rio de Janeiro, 1919 (prosa); Pontas de fogo, Rio de Janeiro, 1922 (crônicas); Gigantes e Pigmeus.
Colaborou no Correio do Povo, em Porto Alegre e em O Momento. Fonte: ABC DAS ALAGOAS. Francisco Reynaldo Amorim de Barros.
AVELAR, Romeu de. Coletânea de poetas alagoanos. Rio de Janeiro: Edições Minerva, 1959. 286 p. ilus. 15,5x23 cm. Exemplar encadernado. Bibl. Antonio Miranda
A GRASSETA
Nasce em julho nos campos a grasseta,
A flor mimosa, a perfumada flor,
Que de manha possui do lírio a cor
E tem de tarde a cor da violeta.
Entre as puras florinhas dos desertos
Campos, tem ela o porte de princesa;
Beleza não tem mais os entreabertos
Lírios e as rosas não têm mais beleza.
Quem passa e a vê, não deixa de colhê-la;
Quem a colhe, não deixa de beijá-la;
Pois não há flor como essa flor tão bela,
Nem há perfume igual ao que ela exala.
Dizem, porém que quando a borboleta
Que pelos campos esvoaça, a esmo,
Beija essa flor ideal, morre ali mesmo,
Na setínea corola da grasseta...
Flor de meus sonhos, pálida e singela,
Que me afogas a vida em tanto amor,
Como essa flor, tu és querida e bela,
Mas possuis o veneno dessa flor!
O COQUEIRO DE PAJUÇARA
Ereto e solitário, a dominar a praia
ei-lo, ali, sobranceiro,
qual sublime e altaneira e vestuta atalaia,
esse belo, esse imenso, esse antigo coqueiro.
Bando de gerações amaram-no. Que tem
uns cem anos, escuto.
São todos a dizer que não nega a ninguém
a água do fruto seu e a polpa do seu fruto.
Nas noites estivais; nessas noites de calma,
nessas noites de luar,
chora soluços d´alma
com saudades da lua e ciúme do mar.
Ereto e solitário. Impávido leão
a sacudir a juba auri-verde e ondulante;
quando estou diante dele penso que estou diante
da estátua colossal de um velho deus pagão.
GENURA
Genura, talvez suponhas,
Na ausência que nos separa.
Que o lábio que te beijara
talvez não de beije mais...
Que coisas terríveis julgas!
Por este que deu-te a vida
Tu não serás esquecida,
Genura, jamais, jamais...
Vivemos tão separados,
Tão separados, é certo,
Tão perto de mim te vejo...
Parece que, descuidados,
Nós vivemos como outrora
Tão perto da mesma aurora,
Tão perto do mesmo beijo.
A sorte quer de vencida
Levar-nos, minha Genura,
A nós que fizemos jura
De só nos vencera a morte,
A nós que de uma só vida
As nossas vidas fizemos,
Genura querida, havemos
Levar de vencida a sorte.
JOÃO! JOÃO!
Vive a saudade a me dizer baixinho:
“João! Regressa à terra onde nasceste,
Onde o primeiro e puro amor tiveste...
Vamos, bardo da dor, põe-te a caminho!”
E mais cruel que traiçoeiro espinho:
Diz-me o remorso: “João! tu que fizeste
Das tuas juras? Volve ao pátrio ninho,
Ave que um voo eterno desprendeste!
Ouço um anjo dizer-me quando sonho:
“João! a mais formosa entre as formosas,
Se não voltares, morrerá; suponho.
Porém diz-me a bater o coração,
Depois de tantas súplicas saudosa:
“Se tu queres penar — volta, João!”!
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Página publicada em junho de 2021
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